Nunca na história desse país se viu tanta intolerância e tanto descaso com a justiça e a ordem pública, quanto o que hoje se vê. Na verdade, a intolerância a cada dia amplia seus lastros por todo o mundo. Pouco importa que tipo de objeto seja utilizado para desrespeitar à alguém, não que se iguale o peso da agressão de uma pistola com um pedaço de papel, mas o fato é que, só se compreende os efeitos causados por uma agressão física, emocional, ou de um gesto de intolerância quando se passa pela experiência. E no fundo, tudo isso, seja no nível que for, é sempre um grave desrespeito ao ser humano.
O ato em si, seja por palavras, gestos ou qualquer outro do tipo, é sempre resumido em duas simples palavras: agressão e desrespeito, como bem retrata o termo inglês “Bullying”. As agressões e a intolerância são atos que deveriam ser punidos em nossa sociedade. Não se pode imaginar que por ser um desrespeito de menor ou de maior gravidade, seja apenas um ato de pequena proporção. Porque é assim que se desenvolvem os maiores criminosos, que em sua grande maioria, tiveram seus atos minimizados na infância e na adolescência.
Infelizmente, há falta de senso, educação e critério ético-moral na resposta presidencial à sociedade brasileira. Ao invés de punir exemplarmente o ato de desrespeito a livre expressão das pessoas que manifestavam ordeiramente suas idéias, minimiza o ato desrespeitando o direito constitucional a que jurou cumprir em sua posse perante o Congresso nacional e o povo brasileiro, para defender um grupo integrante da equipe da candidatura que defende. Mas a ausência de consciência e respeito ao senso de civilidade, educação social e aos critérios éticos não se constitui um privilégio do Presidente, muito antes dele nascer o Brasil vivia essa questão. E pior, o povo brasileiro é desrespeitado todos os dias nos mais variados níveis.
O atendimento na rede de saúde funciona mais ou menos assim. Quando na diplomação, o médico formado diz: “Prometo que ao exercer a arte de curar, mostrar-me-ei sempre fiel aos preceitos da honestidade, da caridade e da ciência”. Entretanto, na prática existe outra classificação de prioridade entre o paciente particular, o paciente que disponha de um plano de saúde e o paciente cujo pagamento seja feito pelo SUS. Embora atendidos algumas vezes no mesmo hospital, ou clínica, mesmo que apresentando quadro de risco diferenciado dessa ordem, a lista de prioridade será a seguinte: primeiro o particular porque paga a vista, segundo o convênio particular porque a operadora paga melhor e gera fluxo financeiro, e por último o conveniado do SUS porque o governo paga menos. A justificativa é simples: negócio é negócio e não sobrevive de juramentos.
O policial quando recebe o distintivo diz: “Juro defender a sociedade com o sacrifício, se preciso for, de minha própria vida”. Mas na prática, alguns recebem uma propina daqui outra dali e o assunto entra na normalidade, porque afinal policial ganha mal.
E o político que se elege a Presidência da República, ao chegar no Congresso Nacional, na presença dos 513 deputados federais, 81 senadores, de convidados e de todo o povo brasileiro, através da TV e do rádio, diz: “Juro à nação, presto o compromisso de manter, defender e cumprir a Constituição brasileira, observar as leis, promover o bem geral do povo brasileiro, sustentar a união, a integridade e a independência do Brasil”. No entanto, quando no exercício do poder, altera as leis, cria decretos, muda orçamentos e descumpre a própria Constituição do país, muitas vezes fazendo emendas que à adapte aos interesses de seus financiadores, se diz não enxergar a corrupção à sua volta, e ainda permite e defende todo e qualquer desrespeito aos seus opositores, violando o direito constitucional, as leis e até mesmo ao seu discurso de posse: “O combate à corrupção e a defesa da ética no trato da coisa pública serão objetivos centrais e permanentes do meu Governo. É preciso enfrentar com determinação e derrotar a verdadeira cultura da impunidade que prevalece em certos setores da vida pública. Não permitiremos que a corrupção, a sonegação e o desperdício continuem privando a população de recursos que são seus e que tanto poderiam ajudar na sua dura luta pela sobrevivência. Ser honesto é mais do que apenas não roubar e não deixar roubar. É também aplicar com eficiência e transparência, sem desperdícios, os recursos públicos focados em resultados sociais concretos. Estou convencido de que temos, dessa forma, uma chance única de superar os principais entraves ao desenvolvimento sustentado do País. E acreditem, acreditem mesmo, não pretendo desperdiçar essa oportunidade conquistada com a luta de muitos milhões e milhões de brasileiros e brasileiras”. A justificativa para isso acontecer no Brasil, segundo o dito popular, é: “ele permite essas coisas, mas não se mexe em time que está ganhando”.
Hoje, relembrando a angústia de alguns dos antigos pensadores, desde a Grécia antiga, compreendo a aflição dos que pensam para o Brasil uma sociedade mais justa, educada, saudável, não comprometida com discursos ideologicos repletos de suaves e hipocrisia nacionalista, que só enganam o povo.
O povo brasileiro é generoso e sempre disposto a ajudar na luta contra as desigualdades sociais. Nunca perde a esperança. Mas é preciso se pensar que não há uma sociedade justa sem que haja saúde e educação com padrão de alto nível, sem que o atendimento público seja levado a sério. Nunca visto como um favor ao contribuinte e sim como uma obrigação de servir bem a quem paga caro pelo salário do servidor público, através dos impostos que recolhe em cada compra que faz e a cada desconto que lhe impõe a legislação. Onde haja segurança e liberdade de expressão do pensamento, respeito as idéias e aos que pensam diferente. Onde a justiça seja justa e enxergue os interesses individuais e coletivos previsto na Constituição e nas leis. Onde a justiça seja de fato cega para os interesses próprios, geralmente escusos.
Queremos ser melhores. Amamos o nosso país. Mas as coisas só mudam se despedirmos os belos discursos, eliminarmos a corrupção, e impusermos qualidade ao atendimento público. Do contrário, mantendo esse jeito de querer ajudar a quem já tem o poder, ninguém pode mudar o país. Porque os poderosos não necessitam da ajuda do povo, senão para se perpetuar no poder.
Sydnei Meirelles
Um comentário:
A intolerância que precisa crescer em cada brasileiro é contra o acontece de errado na educação, na saúde, na segurança pública, na justiça e principalmente a ausência de qualidade no atendimento do serviço público ao contribuinte. Porque todos pagam impostos através de cada produto que consome. Portanto, todo servidor público é funcionário a serviço do povo brasileiro, recebe seu salário para prestar serviço a população com atenção, educação, respeito e fornecer a solução para as necessidades do povo, no setor em que presta o serviço.
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